A França continua a ser o principal destino da emigração. Era sobretudo para lá que os portugueses fugiam durante a Guerra Colonial |
Os números ainda não reflectem a debandada dos últimos três anos, mas a análise dos censos de 2011 permite perceber, com maior precisão, como gente nascida em Portugal se tem propagado pelo Velho Continente. Em 2011, à volta de um milhão residia noutro país da União Europeia.
É a análise feita por Rui Pena Pires, Cláudia Pereira e Inês Espírito Santo, do Observatório da Emigração, que integra o Centro de Investigação e Estudos de Sociologia do Instituto Universitário de Lisboa, numa parceria com a Direcção-Geral dos Assuntos Consulares e das Comunidades Portuguesas.
Não há uma revelação. Para já, as estatísticas trabalhadas só permitem afirmar, com precisão, o que tem vindo a ser dito com recurso a outras fontes, explicou Rui Pena Pires, ao PÚBLICO, por telefone. A equipa ainda não dispõe de todos os dados pedidos. Falta-lhe contar a Bélgica, cuja estatística ainda não está disponível. Não conta a Croácia, que ainda não fazia parte da União Europeia (UE), nem a Bulgária, a Lituânia ou os Países Baixos, que por imperativos legais não disponibilizam tal informação.
Os censos, que resultam de inquéritos aplicados entre Março de 2010 e Março de 2011, cifram em 960.551 os nascidos em Portugal residentes noutros 22 países da UE. Os dados estimados da Bélgica indicam outros 28 mil e os dos Países Baixos outros 15 mil, o que atira aquela população para cima de um milhão.
Os investigadores também solicitaram estatísticas aos quatro países da Associação Europeia de Comércio Livre (em inglês: European Free Trade Association). O Liechtenstein não a disponibilizou, a Islândia e a Noruega pouco representam, mas a Suíça tinha 169.458 nascidos em Portugal.
Os seis grandes destinos
França (617 mil), Luxemburgo (61 mil) e Alemanha (75 mil) destacavam-se como velhos destinos. Suíça (169 mil), Reino Unido (92 mil) e Espanha (99 mil) sobressaíam como novos destinos. Nessa meia dúzia de países concentravam-se 98% dos nascidos em Portugal residentes na UE ou nos países associados.
Era no Luxemburgo que os nascidos em Portugal causavam maior impacto. Representavam 30% dos estrangeiros residentes, 12% da população total. O outro país de maior impacto era a Suíça, onde os nascidos em Portugal já pesavam 9%. E, todos os dias, chegam mais ao Grão-Ducado e à federação helvética.
Para perceber a propensão para aqueles dois países multilingues bastará comparar censos. Em 2001, havia 41.690 nascidos em Portugal a morar no Luxemburgo, menos 19.201 do que dez anos depois. Na Suíça, a comunidade ficava-se pelos 100.975, menos 68.483 do que na altura dos últimos censos.
Em termos absolutos, como é sabido, nenhum país bate a França. Era, sobretudo, para lá que fugiam os portugueses durante a Guerra Colonial (1961 a 1974). O país nunca perdeu atracção para os portugueses. A população continua a aumentar, apesar dos incontáveis regressos iniciados com a Revolução de 1974.
Espanha em queda
Antes da actual crise, que voltou a atirar Portugal para os níveis migratórios das décadas de 1960 e 1970, era para a Espanha que os portugueses mais estavam a ir. Houve uma taxa de crescimento de 47% entre 1999 e 2001. Entre 2003 e até 2007, as taxas foram sempre superiores a 30%. Entre 2003 e 2004 alcançaram mesmo os 104%. A partir de 2007, as entradas decrescem a grande ritmo. A estatística mostra que saíram muito mais pessoas do que entraram.
O fluxo para Espanha estava muito associado à construção civil e às obras públicas, recorda Rui Pena Pires. Muitos portugueses viviam num permanente vaivém, como, de resto, é típico acontecer a quem trabalha em obras não muito distantes. Só que a crise, em Espanha, afectou muito o sector imobiliário.
O Reino Unido, sublinha o professor, é o grande destino do momento. De uns censos para outros, os residentes nascidos em Portugal passaram de 36.556 para 92.065. Com o apertar das políticas de austeridade, o número de entradas acelerou: 16 mil em 2011, 20 mil em 2012, 30 mil em 2013.
Para o Reino Unido avançam pessoas com formação baixa, média ou superior. “É aí que que a emigração qualificada tem mais expressão”, diz o investigador. Em 2011, 20% tinham curso superior. Um reflexo da emigração recente, salienta. Ainda não dispõe desse género de dados para todos os países, mas de alguns que ajudam a relativizar: 5% dos portugueses na Suíça e 3% no Luxemburgo tinham pelo menos uma licenciatura.
ANA CRISTINA PEREIRA
16/06/2014 - 08:00
ANA CRISTINA PEREIRA
16/06/2014 - 08:00
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